
Destinado a ser o maior jogador de todos os tempos, acabou sendo um dos maiores falhados de sempre.
Esta é a trágica história do repentista
Nii Lamptey.
Corriam os idos de 1991. O grunge dominava a rádio e a TV, ainda havia uma quota mínima de 30% de bigode frondoso por cada plantel de futebol, e
Yulian e
Spassov chegavam no seu Fiat 127 a
Paços de Ferreira.
Porém, à parte de tudo isto, o Mundo assistia incrédulo (
como se tratasse de um passe em profundidade de Oceano ou de um hattrick de Missé-Missé) ao Campeonato do Mundo para imberbes jovens sub-17. Entre uma pleíade de futuras estrelas, como o homem das suíças renascentistas
Del Piero e o estratega careca e Napoleão do tapete verde,
Verón, brilhava o
Bola de Ouro:
Nii Odartey Lamptey de seu nome.
Ao lado do outro futuro portento leiriense
Emmanuel Duah, Nii fazia miséria nas defesas adversárias com a sua criatividade, velocidade e visão de jogo. Duah afirma também que Lamptey era para além disso tudo, bom a fazer a cama.
Após a explosão do bom do
Nii com apenas 15 anos de idade, o
Rei Pelé (
ele próprio considerado um antecessor de Gil Baiano) sentiu-se na obrigação de declará-lo como o seu sucessor natural. Talvez, mas só no que respeita à facilidade com que ambos eram capazes de montar um Cubo de Rubik em apenas 120 segundos.
Porém, o Anderlecht não sabia disso, e raptou-o (
estória verídica) para a Bélgica, onde o prodígio ganês assinou contrato. Os belgas devem ter ouvido falar do rapto do homem dos tremoços,
Eusébio (
ele próprio considerado um antecessor de Pepa), sabiamente executado pelos lisboetas vermelhos aos lisboetas verdes. Parece que deu resultado.
Com 16 anos, no Anderlecht, molhou a sopa por 7 vezes em 14 jogos, confirmando as palavras de Pelé (
as que não diziam respeito ao Cubo de Rubik).
Passadas três épocas, já considerado por muitos o novo
António Borges ganês,
Nii rumou ao PSV, com a missão de substituir Romário. Missão fácil para um miudo imberbe e a cheirar a leite, cujo nome não é Ronaldo. Mas o nosso rapaz estava habituado a superar expectativas. Na primeira e última época em terras de
Ronny Van Es e
Gaston Taument, foi o melhor marcador da sua equipa.
Mas na época seguinte, aquando da chegada ao Aston Villa, a rapsódia chegou abruptamente ao final. Coventry City, Veneza, Unión Santa Fé (
em terras de Kimmel, outro clássico leiriense, benetidense e bidoeirense) e Ankaragücü foram notas desafinadas numa pauta desalinhada e descuidada. Pobre
Nii.
Porém, enquanto na sarjeta futebolística, uma alma caridosa e genial (provavelmente
Duah, digo eu), qual passarinho, sussurrou ao ouvido de
Lamptey que o local indicado para atingir o ponto de rebuçado seria Leiria, uma pacata localidade portuguesa.
Lamptey, sempre inteligente na hora de mal gerir a carreira, nem teve tempo para dizer que sim, e empacotou de pronto a mala com as suas posses (um cubo de Rubik, três ervilhas, um Game Boy em 2ª mão e um cachecol do Desportivo de Chaves) em direcção á cidade do Lis.
Arrivado à Lusitânia,
Nii proferiu as seguintes palavras, aqui traduzidas em
"Cromos da Bola":
-"Como toda a gente no Gana, sou benfiquista desde pequenino, portanto o meu sonho sempre foi jogar em Portugal. Porém, a minha vizinha da frente gostava muito do
Chaves por causa do
Baston, J'aime Cerqueira, Dacroce e Dani Diaz. O meu objectivo é fazer uma grande época para dar o salto para a 2ª Liga, para o nosso
Chaves."*
Apesar da boa vontade, a mão cheia de exibições pálidas, ensossas e absolutamente repelentes, não foi suficiente para tal.
Lamptey, o eterno optimista, pensou que a situação ideal seria deixar Portugal para trás e rumar à 15ª Divisão Alemã, berço de muitos e variados talentos ganeses no Século IV. Ingressou portanto no Greuther Fürth. Daí partiu para China e posteriormente para o
Al Nassr do Qatar, onde pôde reencontrar muitos talentos velhos, podres e/ou falhados do Futebol Mundial.
Nii encontrou paz.
Nii encontrou a sua casa.
Por cada Eusébio, há um Akwá.
* P.S.: A tradução das palavras de Nii Lamptey pode ser falaciosa, pois não dominamos por completo a bela e sonoríficamente sonora língua ganesa.